"O verdadeiro lugar de nascimento é aquele em que lançamos pela primeira vez um olhar inteligente sobre nós mesmos." (Marguerite Yourcenar)

«Adevăratul loc de naştere este acela unde pentru prima dată ai aruncat asupra ta însuţi o privire pătrunzătoare» (Marguerite Yourcenar)

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28 de jan. de 2010

BAUDELAIRE E RIMBAUD



Apresento, para apreciação dos leitores deste blog, traduções de dois dos mais célebres poemas da literatura francesa: A Une Passante, de Charles Baudelaire (uma preferência pessoal minha) e Le Dormeur du Val, de Arthur Rimbaud, ambos exponentes do simbolismo.




A UMA PASSANTE  
(Charles Baudelaire)


A rua, um caos, a meu redor vociferando.
Esbelta, esguia, de luto, dor majestosa,
Uma mulher passou, com sua mão faustosa
Erguendo o debrum e a tiara balançando;

Tinha a perna de estátua, era ágil e fina.
Eu bebia, excêntrico e crispado agora,
No seu olhar, céu cinza onde a tormenta aflora,
A doçura que encanta e o prazer que fulmina.

Um clarão... e então, noite! – Furtiva beldade
Cujo olhar de repente me fez renascer,
Não te verei jamais senão na eternidade?

Tarde demais! Distante! Nunca, pode ser!
Não sabes aonde eu vou, e não sei aonde ias,
Tu que eu teria amado, e tão bem o sabias!

(tradução de Raul Passos)



O ADORMECIDO DO VALE
(Arthur Rimbaud)


É um recanto verde onde canta uma ribeira
Qual louco se enredando ao roto dos capões
De prata; onde o sol, da montanha altaneira,
Luz; é um pequeno vale que espuma em clarões.

Jovem soldado, boca aberta, testa nua,
Banha a nuca no fresco dos agriões azuis:
No sereno ele dorme, sobre a grama crua,
Pálido, no leito verde onde chora a luz.

Os pés sobre os gladíolos, repousa. Sorrindo
Como fosse um menino doente, está dormindo:
Tem frio. A natureza o embala no seu peito.

Mas o cheiro dos perfumes não mais lhe alcança,
Dorme sob o sol, mão no coração, descansa
Em paz. Dois rombos rubros do lado direito.


(tradução de Raul Passos)