"O verdadeiro lugar de nascimento é aquele em que lançamos pela primeira vez um olhar inteligente sobre nós mesmos." (Marguerite Yourcenar)

«Adevăratul loc de naştere este acela unde pentru prima dată ai aruncat asupra ta însuţi o privire pătrunzătoare» (Marguerite Yourcenar)

raulpassos.maestro@gmail.com

30 de ago. de 2008

AFINIDADE


A afinidade não é o mais brilhante, mas o mais sutil, delicado e penetrante dos sentimentos. O mais independente.

Não importa o tempo, a ausência, os adiamentos, as distâncias, as impossibilidades. Quando há afinidade, qualquer reencontro retoma a relação, o diálogo, a conversa, o afeto, no exato ponto em que foi interrompido. Afinidade é não haver tempo mediando a vida.

É uma vitória do adivinhado sobre o real. Do subjetivo sobre o objetivo. Do permanente sobre o passageiro. Do básico sobre o superficial. Ter afinidade é muito raro.


Mas quando existe não precisa de códigos verbais para se manifestar. Existia antes do conhecimento, irradia durante e permanece depois que as pessoas deixaram de estar juntas. O que você tem dificuldade de expressar a um não afim, sai simples e claro diante de alguém com quem você tem afinidade.


Afinidade é ficar longe pensando parecido a respeito dos mesmos fatos que impressionam, comovem ou mobilizam. É ficar conversando sem trocar palavra. É receber o que vem do outro com aceitação anterior ao entendimento.


Afinidade é sentir com. nem sentir contra, nem sentir para, nem sentir por, nem sentir pelo. Quanta gente ama loucamente, mas sente contra o ser amado. Quantos amam e sentem para o ser amado, não para eles próprios.


Sentir com é não ter necessidade de explicar o que está sentindo. É olhar e perceber. É mais calar do que falar. Ou quando é falar, jamais explicar, apenas afirmar.


Afinidade é jamais sentir por. Quem sente por, confunde afinidade com masoquismo. Mas quem sente com, avalia sem se contaminar. Compreende sem ocupar o lugar do outro. Aceita para poder questionar. Quem não tem afinidade, questiona por não aceitar.


Só entra em relação rica e saudável com o outro quem aceita para poder questionar. Não sei se sou claro: quem aceita para poder questionar, não nega ao outro a possibilidade de ser o que é, como é, da maneira que é. E, aceitando-o, aí sim, pode questionar, até duramente, se for o caso. Isso é afinidade. Mas o habitual é vermos alguém questionar porque não aceita o outro como ele é. Por isso, aliás, questiona. Questionamento de afins, eis a (in)fluência. Questionamento de não afins, eis a guerra.


A afinidade não precisa do amor. Pode existir com ou sem ele. Independente dele. A quilômetros de distância. Na maneira de falar, de escrever, de andar, de respirar. Há afinidade por pessoas a quem apenas vemos passar, Por vizinhos com quem nunca falamos e de quem nada sabemos. Há afinidade com pessoas de outros continentes a quem nunca vemos, veremos ou falaremos.


Quem pode afirmar que, durante o sono, fluidos nossos não saem para buscar sintomas com pessoas distantes, com amigos a quem não vemos, com amores latentes, com irmãos do não vivido?


A afinidade é singular, discreta e independente porque não precisa do tempo para existir. Vinte anos sem ver aquela pessoa com quem se estabeleceu o vínculo da afinidade! No dia em que a vir de novo, você vai prosseguir a relação exatamente do ponto em que parou. Afinidade é a adivinhação de essências não conhecidas nem pelas pessoas que as têm.


Por prescindir do tempo e ser a ele superior, a afinidade vence a morte, porque cada um de nós traz afinidades ancestrais com a experiência da espécie no inconsciente. Ela se prolonga nas células dos que nascem de nós, para encontrar sintonias futuras nas quais estaremos presentes.

Sensível é a afinidade. É exigente apenas de que as pessoas evoluam parecido. Que a erosão, amadurecimento ou aperfeiçoamento sejam do mesmo grau, porque o que define a afinidade é a sua existência também depois.


Aquele ou aquela de quem você foi tão amigo ou amado, e anos depois encontra com saudade ou alegria, mas percebe que não vai conseguir restituir o clima afetivo de antes, é alguém com quem a afinidade foi temporária. E afinidade real não é temporária. É supratemporal. Nada mais doloroso que contemplar afinidade morta, ou a ilusão de que as vivências daquela época eram afinidade. A pessoa mudou, transformou-se por outros meios. A vida passou por ela e fez tempestades, chuvas, plantios de resultado diverso.


Afinidade é ter perdas semelhantes e iguais esperanças, é conversar no silêncio, tanto das possibilidades exercidas, quanto das impossibilidades vividas.


Afinidade é retomar a relação do ponto em que parou, sem lamentar o tempo da separação. Porque tempo e separação nunca existiram. Foram apenas a oportunidade dada (tirada) pela vida para que a maturação comum pudesse se dar. E para que cada pessoa pudesse e possa ser, cada vez mais, a expressão do outro sob a forma ampliada e refletida do eu individual aprimorado.


(Arthur da Távola)

19 de ago. de 2008

ÁGUAS DE JULHO

por Raul Passos
17 de Setembro de 2003

Não estava chovendo em Curitiba por aqueles dias. Fato que, para um montanhista, é carta branca para se embrenhar no mato. Somado a um tanto considerável de motivação, era o que faltava para que, mais uma vez, o trio (o mesmo) que se havia entrevado na travessia Itapiroca - Cerro Verde - Tucum em plena véspera de ano novo, se decidisse a enfrentar uma semana no Pico do Paraná... Ah, mas quem pode ter certeza do tempo na capital paranaense? Foi precisamente o nosso erro, ou melhor, o descuido que transformou nossa semana numa molhada epopéia.

Partimos de Curitiba no domingo, dia 13, a uma temperatura de 7 graus (ainda tépido para o inverno curitibano!). O nosso querido Aranha, para variar um pouco, com a mochila mais pesada do que ele mesmo (até hoje não consegui entender como é possível uma mochila pesar tanto. Sempre o vejo a carregar e ainda não descobri onde ele põe o chumbo!). "Meu termômetro está marcando 10", relatou ele. Os céus estavam promissores. Prometiam chuva, para nosso desespero.

Começamos a subida bastante animados. O Marcelo nos motivava ainda mais: atacaria de mestre confeiteiro fazendo uma sobremesa surpresa no cume. O Aranha subiu aos suspiros (apaixonado?). A tempos que o não via assim! Ele com certeza se utilizou desse recurso para esquecer do container que carregava no lombo. De cada 10 palavras que falava, 11 eram "ela". Eu, com a mochila mais leve, no entanto já sentia arrepios pelo aquaflex que teria de carregar a partir do A2. Habituado a carregar a comida, ainda não me entrava na telha a idéia de subir com a água.

Um pouco depois do cruzo Caratuva - PP, encontramos escoteiros. Vinham em bando. As meninas com seus travesseiros e ursinhos de pelúcia, fofinhos e cheios de pico-pico. Ainda um pouco mais à frente cruzamos com o pessoal do "Nas Nuvens", grupo de montanhismo. Todos se surpreendiam com o trio que, enquanto tantos desciam, estavam empenhados em subir e, pior, permanecer uma longa semana que já prometia ser, por assim dizer, não das mais secas!

Já começava a ventar forte e a temperatura baixava consideravelmente ao cair da noite, quando atingimos o Abrigo de Pedra, perto da última bica. Enquanto Marcelo e Aranha buscavam água, fiquei resguardado com nosso equipamento. Foi o meu pior erro: sentia o vento entrar nos ossos e aquilo foi congelando meu rosto e meus dedos. Tentei mexê-los, mas já perdiam a agilidade notória de alguém que, até o inicio da subida, era pianista por profissão. No entanto, naquele mesmo lugar senti uma sensação incrível de paz, como jamais houvera experimentado. Por vezes não se escutava sequer o vento (talvez por já me haver congelado as orelhas), mas o fato é que aquele silêncio foi uma das coisas mais sensacionais que já me aconteceram em meus 20 aninhos de vida!

Quanto mais se contempla, menos se reclama. Mas o fato é que eu teria de passar a noite inteira contemplando esse oceano de paz para não reclamar daqueles litros d'água que me ceifariam as costas nos metros restantes até o cume. Ali percebi o quanto as pedaladas que deixei de dar nas (poucas) tardes quentes de maio em Curitiba me fizeram falta. O Aranha, que subia como o próprio artrópode, ainda se ofereceu para carregar 4 dos 10 litros que eu levava. E eu, além de perplexo com minha ineficiência para burro de carga, estava atarantado em ver meu quase irmão subindo como um serelepe. O Marcelo, a essa altura do campeonato (uns 1700m) já tomava distancia.

"Cheguei ao meu limite", foi meu primeiro pensamento ao atingir o cume. Caminhava como um bêbado que tentava fingir estar sóbrio, quando contornei a ultima pedra, onde, desconhecendo o quanto faltava, decidi parar para retomar o fôlego. O Aranha, que mais tarde me confessou que também não lembrava o quanto faltava naquele ponto (insignificantes 5m!!!), tratou de não me deixar parar. De fato, se parasse, eu, que a essa altura não sentia nem braços nem pernas, teria muito mais dificuldades para chegar. O famoso "uhuuuuu!!!" que o Marcelo teve a honra de ser o primeiro a gritar quando chegou lá em cima, a 1.877m, me soou tão distante como se eu estivesse a quilômetros dele. A distancia que nos separava então era de 15m. A sensação térmica no cume era de 0 grau. Apesar dos membros lassos, tinha consciência do quanto era maravilhoso estar no ponto mais alto do sul do Brasil. Dormimos os três como nenéns, tamanha a fadiga. Até nos esquecemos de assinar o livro de cume.

E tempo para isso não nos faltaria no dia seguinte. Choveu a cântaros. Água à Bangu, mesmo... E, ironicamente, nossa maior preocupação era com o estoque de água (maldição eterna ao aquaflex!). Confinados os três ao interior da barraca, passamos o dia a filosofar e, numa brecha intermitente da chuva, a preencher o livro de cume com nossos devaneios (o Mal da Montanha...). "10 graus está marcando o termômetro", disse o Aranha. "Acho que esse teu termômetro está viciado, hein?", comentei. O chimarrão foi outra feliz idéia que nos ajudou a passar o tempo. Mais três montanhistas atingiram o cume neste dia (na certa pensando que estariam sozinhos naquele dilúvio. Mas a Arca de Noé sempre reserva surpresas. Esta nossa até aranha tinha...). Permaneceram apenas um dia e, possivelmente, desceram escorregando.

A constante neblina não nos permitiu sequer fotografar o amanhecer do dia 15. Segunda surpresa desagradável, posto que, qual não foi o nosso assombro ao constatarmos, no café da manha, a primeira delas: um infame ratinho da montanha havia dado cabo de alguns legumes e (mais previsível) do queijo ralado. "Bem que eu escutei um barulho de sacola se mexendo, de madrugada", relatou o Aranha, indignado. No entanto, mais importante agora, era que havia estiado. Decidimos aproveitar a brecha (e a temperatura de 10 graus, no termômetro do Aranha) para ir até o cume do Ibitirati. Passamos pelo União e, ao chegarmos ao topo com nossas maquinas fotográficas em punho, fomos surpreendidos pelo visual. Não vou nem fazer um relato muito extenso, pois a imagem fala por si. Maravilhoso!!!

Foto: Marcelo Brotto

Faltou filme para registrar a catarse de vida, cores e harmonia que compunham a fenomenal paisagem a que nos víamos integrados. "Valeu nossa semana", comentei com meus botões e, mais tarde, com Marcelo. Na volta, entre o Ibitirati e o União, nos detivemos por um instante a contemplar o vale que se precipitava a nosso lado, na forma de uma garganta colossal e profunda, a menos de um passo da estreita trilha onde estávamos. Aquela noite nos abraçou com uma incrível sensação, misto de satisfação e glória, que nos faria dormir intensamente, não fosse o inconveniente do rato. Mergulhamos em nossos sacos de dormir atentos a qualquer ruído de sacola e armados para cacetear o roedor no meio da noite, se ele ousasse aparecer na trincheira mais alta do Sul do Brasil. Eu, que estava com os pés envoltos por duas sacolas para amenizar o frio (de 10 graus), adormeci um pouco mais preocupado, atormentado pela idéia de, ao me mexer inconscientemente durante a madrugada, ser despertado por uma saraivada de porrete nos calcanhares.

Uma aurora alucinante nos saudou por volta das 7 horas do dia 16. Foram poucos os minutos que tivemos para registrá-la, menos nas lentes que em nossas memórias, pois a neblina nos envolveu novamente. Fizemos as últimas tomadas do que se podia ver do litoral e do Tupipiá, do qual tínhamos uma bela vista daquele ponto. Do outro lado do cume, se avistava o inicio da travessia para o Cerro Verde e as montanhas do outro lado da serra. Desceríamos, então, até o A2, onde levantaríamos acampamento para o pernoite. Chegamos lá às 4 da tarde, com a ameaça constante da nuvem negra que se instalara sobre nós, a qual batizamos "carinhosamente" de "Nega Tamara". Persistente, não nos deixou pôr o nariz para fora da barraca. Quando ameaçávamos fazê-lo, no que aparentava ser uma trégua, ela despejava suas "lagrimas", por certo de saudades do trio que, até então, fora mais persistente que ela...

A noite chegou estrelada, sem vestígios de chuva. O Aranha, ao sair da barraca, não conteve a infeliz exclamação de vislumbre: "Olhem, La City!!!", demonstrando dotes para as letras que estão como os meus para a física nuclear. Mas, de fato, Curitiba apontava como um amontoado gigantesco de pontilhadas luzes, dignas de um quadro de Georges Seurat. Olhei para o céu e constatei: "Estão aqui todas as estrelas do mundo". A tão esperada sobremesa do Marcelo veio, e sem decepções: uma surpresa gelada à base de mousse de limão, após um jantar no mínimo requintado para os padrões da montanha. Ceamos polenta com queijo e arroz com funghi secchi. Trouxemos comida "a migué". "Meu calvário na subida foi vão", pensei, desolado. Mesmo sem chuva, mas com vento, adormecemos a 10 graus, escala Aranha-Celsius.

Estava brusco no alvorecer do dia 17, último de nossa excursão. Durante a descida, cruzamos com um grupo que, naturalmente, subia. E nos colocamos no lugar daqueles que cruzaram conosco há 4 dias, ao pensarmos "Malucos, vão se molhar".

Nos separamos ao chegar em Curitiba, gratificados pela experiência pouco ortodoxa de 5 dias encharcados no mato. Na rodoviária, disse ao Aranha: "Esse termômetro vai voar longe se estiver marcando 10 graus". Mas fui desarticulado pelo termômetro em frente à rodoviária: fazia 10 graus em Curitiba. E já não chovia...

Agradeço ao Marcelo pela oportunidade que me cedeu de relatar a nossa façanha. Foi a prova de que, nem mesmo com chuva, o montanhista se abate, e tampouco deixa de curtir e contemplar o que a natureza lhe dispõe de melhor, em seu estado mais virgem. Montanhistas, uni-vos! São as Águas de Julho fechando o melhor da estação!!!

18 de ago. de 2008

A NATUREZA PRIMORDIAL DA MÚSICA

por Raul Passos

Poucos elementos estiveram tão presentes no decorrer da evolução da história do homem na Terra quanto a música. Ao lado dela, talvez apenas a necessidade de alimento, abrigo e o ímpeto de sobrevivência digam tanto respeito à sua natureza. Isso porque a necessidade de expressão e de comunicação é tão primitiva quanto as necessidades corporais. A relação intensa do homem com o som talvez se explique pelo próprio fato de que o homem, ele mesmo, é um instrumento. Recordemos que a voz foi o primeiro veículo de expressão usado por ele.

O contato sistematizado com seu semelhante levou o homem ao desenvolvimento da linguagem, num primeiro momento restrita às manifestações mais primordiais. Dessa maneira, do mesmo modo com que geraram-se códigos para designar elementos presentes na natureza e suas respectivas manifestações - elementos estes condicionantes da vida do homem -, houve uma primeira tentativa de estabelecer contato com essa instância superior, reguladora dos ritmos da existência a que este homem se via submetido. Podemos deduzir daí a existência mais rudimentar de uma futura música sacra ou ritualística, no sentido de que era dedicada a ser veículo desse sentimento de reverência, medo, respeito ou de súplica. Tenhamos em mente que, ainda hoje, quase a totalidade das sociedades ágrifas e indígenas fazem uso da sua manisfestação musical visando estabelecer uma união com esse plano divino ou mesmo com a natureza. Já nas sociedades mais primitivas, essa proto-música desempenhava função ritualística.

Mas qual seria a origem do termo música? Uma lenda sufista diz que Moisés teria ouvido as ordens divinas no Monte Sinai através das palavras “Muse ke!”, ou seja, “Moisés, ouve!”, e toda a Lei lhe teria sido assim transmitida, na forma de um som. Outra explicação aponta a origem etimológica da palavra Música para o antigo Egito. Ela derivaria de “maash”, que significa fecundação e poder feminino. Por sua vez, desta palavra os gregos derivaram “mousa” e a palavra “mousike”. Em suma, pode-se dizer que “maash”, para os egípcios, era o conceito daquilo que transformava o caos primitivo no principal atributo do ser: a Luz.

Percebemos assim que não é casualmente que a Música está não apenas entre as sete grandes artes como, ainda além, tem posição privilegiada entre elas, justamente por não necessitar do elemento verbal para se estabelecer, estando dessa maneira igualmente ao alcance de qualquer ser vivo, independente de sua característica, cultura, idioma ou grau de evolução, no que incluimos inclusive os vegetais e os animais, nossos companheiros evolutivos. Essa posição privilegiada se deve ainda ao fato de que a ação da música se dá diretamente no âmbito emocional e psíquico, não passando pela racionalidade num primeiro momento.

Justamente desse poder imediato, incisivo e, ao mesmo tempo, sutil e transmutador que deriva essa característica que confere a natureza divina da música. Estaria ela assim mais próxima da chamada língua dos anjos, ou língua de Enoque que, conforme é sabido, não seria cristalizada por meio de palavras, sendo apenas acessível ao coração susceptível a essa suprema vibração.

Ao longo da história, temos tentado estabelecer, através da música, esse mesmo contato ou harmonização com aquilo que reconhecemos estar acima da nossa capacidade imediata de compreensão, e reconhecemos que a música é o nosso principal e mais eficiente veículo. Quando ouvimos uma música, consciente ou inconscientemente somos afetados por ela. Isso se deve à sua natureza vibratória. Não apenas o som, matéria prima da música, como tudo ao redor e dentro de nós consiste em vibração. Dessa maneira, somos afetados por nosso meio da mesma maneira como o modificamos. Através dessa vibração, nos aproximamos mais da vibração suprema, a primeira emanada pelo divino, e por esse meio tentamos encontrar a senda perdida para essa emanação primordial.

Finalizando, acrescento duas citações que exprimem com grande veracidade esse olhar do ser humano sobre essa grande manifestação. A primeira, do compositor austríaco Joseph Haydn, professor de Beethoven, diz o seguinte: “Nenhuma recompensa é mais valiosa do que a sensação de poder comunicar alegria, repouso e encantamento a criaturas atribuladas por preocupações e problemas, através da Música.” A segunda, de autor desconhecido nos faz lembrar que: “A música é, nas mãos dos homens, um feitiço. O seu efeito se estende desde o despertar dos mais nobres sentimentos até o desencadeamento dos mais baixos instintos. Desde a concentração devotada até a perda da consciência que parece embriaguez e desde a veneração religiosa até a mais brutal sensualidade.”