"O verdadeiro lugar de nascimento é aquele em que lançamos pela primeira vez um olhar inteligente sobre nós mesmos." (Marguerite Yourcenar)

«Adevăratul loc de naştere este acela unde pentru prima dată ai aruncat asupra ta însuţi o privire pătrunzătoare» (Marguerite Yourcenar)

raulpassos.maestro@gmail.com

31 de ago. de 2018

31 DE AGOSTO - DIA DA LÍNGUA ROMENA




Hoje, 31 de agosto, é o Dia da Língua Romena. 

Há dez anos cheguei na Romênia pela primeira vez, não sabendo mais do que algumas expressões elementares. Um ano mais tarde, ao voltar para o Brasil, já estava “envenenado” e enfeitiçado pela língua de Mihai Eminescu e Mircea Eliade. No decurso dos sete anos seguintes, me fiz tradutor, e o romeno – ao lado do francês – foi objeto constante da mais dileta das minhas atenções. Nesse intervalo de tempo, muitas idas e vindas Curitiba – Bucareste, muito estudo, muita leitura e um envolvimento cada vez maior. 

Traduzi documentos ordinários, contratos de jogadores de futebol, atestados de óbito, sentenças judiciais e até tirei um romeno da cadeia... E publiquei também minhas primeiras traduções literárias – poesia de Tudor Arghezi e Octavian Goga –, e também prosa, artigos de revista... Há um ano e meio, moro em Bucareste e – mesmo pensando, falando e existindo em romeno a maior parte do tempo –, continuo me surpreendendo a cada dia com as possibilidades da língua.

Em romeno, você não deixa alguém louco; você o “tira da melancia” (a-l scoate din pepene).

Você não quebra regras, mas sim “pisa na lâmpada” (a călca pe bec).

A pessoa não perde as estribeiras; “salta-lhe a mostarda” (îi sare muștarul).

O indivíduo, na Romênia, não fica perdendo tempo, mas sim “esfregando menta” (a freca menta).

O romeno não mente jamais; ele te “vende rosquinhas” (a vinde gogoși).

Ele não tenta passar a conversa em quem entende do assunto; ele “vende pepino pro jardineiro” (a vinde castraveți grădinarului).

O romeno não engana ninguém; ele “passeia com a gralha pintada” (a umbla cu cioara vopsită).

Na Romênia não se casa; “põe-se a nora no forno” (a aduce noră pe cuptor).

E você leu tudo isso e prendeu a respiração? Não, você “puxou a sua alma” (a-și trage sufletul).

7 de ago. de 2018

DO CAMINHO - Tudor Arghezi (tradução para o português)


DO CAMINHO
P’ra ti eu canto, distante e além,
Meus cantos clandestinos e ignorados.
Queixumes literários vão também,
Manuscritos e datilografados.
Passa o tempo a galope, de través,
Sem que eu queira saber, frágil leitora,
Dos meus versos varonis receptora,
Nem quem sou eu, nem mesmo quem tu és.

A árvore dadivosa, quer não quer,
As folhas argentinas perde em vão.
Caem por onde passa um qualquer,
No chapéu, ou talvez no coração.

Ah, sol, vais mansamente despertando!
Tua luz não há de se tornar escassa
Se os teus raios tu fores derramando
Assim descuidadamente em quem passa?
                        
Tradução de Raul Passos


DIN DRUM

Te cânt și-acum din depărtare,
Necunoscut, ascuns și tutelar,
Și-ți mai trimit aleanuri literare,
Cuvinte ’n manuscris și de tipar,
Fără să vreau, fragilă cititoare
A stihurilor mele bărbătești,
Să știu, trecând prin timp călare,
Nici cine sunt, nici cine ești.

Copacul darnic cu găteala lui,
De sus își pierde foi de-argintărie,
Cazând în drumul orișicui,
În suflet sau pe pălărie.

Au, soare, tu, ivindu-te domol,
Nu îți alungi, tu, fulgerile lungi,
Nu-ți verși lumina toată ’n gol,
Nepăsător pe cine îl ajungi?
                                                TUDOR ARGHEZI

CONVOCAÇÃO - Tudor Arghezi (tradução para o português)




CONVOCAÇÃO

De inférteis e secas pedras surgiu
Um filetinho de erva inaudito
E o seu cimo, apontando ao infinito,
Lançava estranhamente um desafio.

Fê-lo brotar o sol, de um seu fragmento.
Um farelo de terra o preparou
E delicado e casto germinou
De sacrossanta flor o filamento.

Na rua majestosa esmigalhado
Seco está no itinerário de asfalto,
Mas tem parte com o céu que fala do alto
– Lhe instrui o firmamento abobadado.

Quando numa taça o lácteo manjar
A noite lhe traz, ele, agradecido
Se alegra se um mosquito empedernido
Na sua áurea inflorescência vem pousar.

                                    Tradução de Raul Passos





CHEMAREA

Din pietre sterpe și uscate
Un fir de iarbă s-a ivit
Și vârful lui în infinit
A cutezat, străin, să cate.

Născut dintr-un crâmpei de soare
Și o fărâmă de pământ,
Firul gingaș, curat și sfânt
A-mbobocit și-a dat o floare.

Strivit în ulița măreață
Secat de drumul de asfalt,
El e de-un fel cu cerul înalt,
Care de sus îi spune și-l învață.

Și, mulțumit că drept merinde,
I-aduce lapte noaptea în pahar,
Se bucură când un țânțar
De moțu-i auriu se prinde.

                                    TUDOR ARGHEZI