Sibiu por si mesma é uma cidade das mais poéticas em que já estive. Por sua importancia histórica também é uma referência. Sibiu é o que Ouro Preto poderia ser, se fosse devidamente conservada e cuidada (ainda assim, amo Ouro Preto! Uma cidades de que mais gosto no mundo). Aqui, onde permanecemos dois dias por conta da conferência sobre arquitetura brasileira do professor Key Imaguire Jr., experimentei um ambiente completamente novo, mesmo se usar como padrão a minha experiência de Romênia.
O que vou carregar comigo para sempre de Sibiu não é nem sequer algo passivel de descrição. Não se trata de algo aprendido com bela arquitetura ou paisagens, e também dessa vez não foi a costumeira simpatia que encontramos no romeno do interior. A marca de Sibiu foi impressa em mim demasiado sutil.
No entanto, o que me impressionou foi que, subitamente, enquanto caminhava por entre elas, percebi que não havia nenhum barulho. Tampouco havia risos ou vozes altas. A música, vinda de um palco instalado pela prefeitura, distante alguns metros, era apenas um delicado pano de fundo. Nada de Jingle Bells, Noite Feliz, White Christmas ou qualquer outra dessas musiquetas aborrecidas que ouvimos todos os anos da mesma maneira. Percebi que o povo não tinha necessidade de exteriorizar nada, e que o comportamento feliz deles podia ser sentido através de gestos discretos, sorrisos espontâneos, embora silenciosos e, mais importante, por meio das crianças. Absorto inteiramente como espectador de uma peça de teatro sem som, vendo os pequenos sobre o carrossel, em companhia dos pais ou passando numa discreta alegria com algodão doce nas mãos ou ainda animadamente patinando sobre o rinque de gelo, tomei consciência da importância de muitas coisas, sobretudo da simplicidade. Talvez eu não consiga me expressar devidamente mas, como avisei de antemão, foi algo muito difícil de conceituar, quanto mais descrever, posto que foi para mim como uma grande pausa no tempo. Também não foi a descoberta dessa simplicidade banal das coisas, que tantas vezes hipocritamente enfatizamos ser a coisa mais importante do mundo. Esteve além, num ponto mais sutil. Talvez tão sutil que nem pude sentir ou compreender devidamente. E embora se trate de uma verdade absoluta, o sentimento deu-se de maneira impermanente, e creio que mesmo se retornasse a Sibiu uma centena de vezes na vida não mais lá poderia encontrá-lo. Pelo menos não dessa maneira.

por Raul Passos, em 03/12/2008.